quarta-feira, 21 de maio de 2008

Viagem particular...

Lembro-me nitidamente de um sonho que tive esses dias.

O ambiente era um tanto irreal, uma espécie de conjunto de edificações construídas ao acaso, abandonadas no tempo. Eu caminhava em direção a uma ponte, de aparência mais intrigante ainda: arcos de metal a circundavam por todas as partes e sua larga passagem de pedras parecia ocultar segredos de mil anos.

Embaixo dela via-se água, mortalmente escura e de onde saíam plantas de folhas longas e finas.

Minha jornada começava ao tocar a primeira pedra da ponte, que deslizou entre meus pés, me fazendo perder o equilíbrio. Ouvia acelerarem as batidas do meu coração, coisa que provavelmente estava acontecendo em meu corpo, na cama, enquanto eu estava também naquela outra dimensão.

Cada passo era como um passo para o vazio. O breu caracterizava o local e eu sentia cada nervo se contrair conforme ia atravessando.

Após algum tempo, que me pareceram duas horas, mas poderiam ter sido dois minutos, cheguei à outra margem.

A paisagem muda bruscamente.

Um enorme céu azul erguia-se a minha frente e quando me virei para comparar as duas paisagens contrastantes, a ponte, a água, e as estranhas construções não estavam mais lá.

Avistei ao longe um lindo carro vermelho do tipo esportivo, vindo vagarosamente em minha direção e parando ao meu lado. A porta do motorista se abriu e não tinha ninguém dentro. Hesitei um pouco, mas entrei.

Comecei a andar com o carro em uma espécie de estrada cercada por árvores com altíssimas copas.

Uma sensação de liberdade tomava lugar do medo inicial. Mas não por muito tempo (se é que é possível falar de tempo ao tratar de sonhos).

À minha frente erguia-se apenas uma estreita passagem agarrada a um desfiladeiro. Ao invés de um abismo, via-se um mar turbulento cujas ondas quebravam violentamente contra a passagem.

Não sabia como parar o carro e não tinha como voltar. Teria que atravessar novamente um lugar aparentemente hostil, mas desta vez o perigo parecia maior... Algo me dizia que se caísse naquele infinito de águas não teria volta.

Segui em frente um pouco contrariada.

O carro parecia descontrolado e cada vez mais sentia que não ia ser capaz de guiá-lo por muito tempo naquela estreita passagem.

Uma voz aparece em meu sonho, se incorporando a ele, até que por intuição ou mesmo pela insistência, acordo com minha prima dizendo que eu estava suando frio e com a respiração ofegante.

Neste período, estava passando por uma série de provações e mudanças em minha vida, o que provavelmente ficou no subconsciente e me proporcionou esta incrível viagem interdimensional.

Sonhos são como viagens, cada um possui seus próprios significados e exercem influência em nosso corpo e psicológico, já que nosso cerébro não os distingue perfeitamente da realidade.

domingo, 18 de maio de 2008

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Terror

A cena deu-se nos territórios de uma igreja de Nossa Senhora de Fátima.
Foi durante uma quermesse (festa parecida com a festa junina, porém precedida por uma missa) que eu vi o que mais me marcou o coração e a memória até hoje.
Estava contente com a efeméride de estar em uma festa que havia sido muito bem falada por meu tio (o que, com certeza a colocou no patamar de 'ótima festa', pois tenho um tio levemente exigente, por assim dizer), enquanto tomava um guaraná e trazia nas mãos um churrasquinho que acabara de comprar, andava em direção à mesa onde meus amigos estavam acomodados. Repentinamente, surgiram duas figuras que me chamaram a atenção.
Tratava-se de uma mulher de olhos fundos e negros que carregavam uma expressão perturbada, tinha cabelos loiros mal ajambrados na cabeça e nariz adunco, vestia uma calça preta e um paletó de veludo marrom aparentemente muito usado, e puxava pelo braço com uma espécie de agressividade mal disfarçada, um garoto de aproximadamente onze anos, com cabelos pretos e olhos de um azul cálido.
Era possível sentir o ódio nos gestos da mulher, enquanto desfilava com a criança entre a multidão de pessoas esperando por seus cachorros quentes na frente duma barraquinha.
A palidez e traços desfigurados pela raiva acentuavam sua figura pantagruélica, que fazia contraste com as delicadas feições do menino arrastado.
Já sentada a mesa, eu os observava com o cuidado de não ser percebida e mantinha a mão no bolso onde guardava o celular, pois um pressentimento ruim assombrava-me o pensamento.
Passaram-se cerca de cinto minutos desde o momento em que avistara a estranha criatura torcendo discretamente o braço do garoto, mas não a perdera de vista e podia analisá-la enquanto o arrastava para um lugar menos lotado.
Foi quando ele projetou um soco para cima para tentar livrar-se da tirana. Ela virou-se para ele rapidamente, esboçando um sorriso de satisfação em seu rosto desfigurado.
Hora de entrar entrar em ação.
No exato momento em que saquei o celular, a mulher pôs-se a espancar o garoto na frente dos poucos que ali estavam, já que alcançara um local mais afastado do centro da festa.
Enquanto eu discava o número da polícia, via-o ficando vermelho, asfixiado por aqueles terríveis tentáculos... Lágrimas de pena e raiva rolavam involuntariamente em meu rosto.
Falei com meus amigos para que alguém segurasse aquela perturbada antes que ela cometesse um assassinato e logo dois deles se encarregaram do trabalho. Enquanto isso eu gritava ao telefone para que a polícia entendesse o que se passava no meio de tantos ruídos.
Depois de muitas repetições, o policial entendeu a situação e disse que mandaria uma patrulha imediatamente para o local.
Tratei de correr para o garoto e levá-lo para dentro da igreja, onde estaria seguro junto com o padre e outras crianças, enquanto a mulher se dizia mãe dele e esperneava aos berros, repetindo que queria o filho perto dela.
Minha vontade era ir até o fim do caso, mas fui parada por motivo de força maior: um telefonema da minha mãe ordenando-me que voltasse para casa imediatamente, pois ouvira no rádio sobre o ocorrido naquela festa.
Por um momento odiei esta história de mundo globalizado e comunicação em tempo real.
Falei com meus quatro amigos que ainda estavam na mesa e os instrui para guiar a polícia até a mulher e não deixar que ela fugisse. Dei uma passada na igreja, onde o garoto era salpicado de água benta pelo padre, e onde mães de outras crianças o consolavam entre seus abraços e palavras doces.
Fiquei mais tranqüila em saber que estava em boas mãos e que a maluca não saíria imune e me dirigi para a saída da festa pois não desejava causar preocupação em casa e sabia que tudo saíria bem na igreja com a ajuda de meus amigos e dos seguranças.
Naturalmente, eu já sabia que existem pais e mais que fazem coisas horríveis com os filhos (o caso da Isabela e do austríaco Josef Fritzl, são exemplos extremos desta violência), mas é muito diferente da sensação de presenciar uma cena dessas.
Quem acha que existe um inferno depois da vida terrena não precisa se preocupar, já estamos nele, pior do que isto não fica.
Basta uma situação adversa e o homem vira bicho outra vez, não adianta alegar que somos civilizados e humanizados, se faltar comida pode ter certeza que não vai existir cortesia nenhuma, a não ser no máximo entre relações de pais e filhos, e isto é fato.
O difícil é imaginar que seja possível (e freqüente) a desumanização de um pai com o próprio filho, sem fator agravante, sem situação adversa, apenas a loucura de um ser desiquilibrado sendo descarregada em seus pobres descendentes.
Vivemos mesmo em um mundo de loucos.

sábado, 3 de maio de 2008

Tempo

O tempo passa por nós ou nós passamos pelo tempo?
Elementar, meu caro Watson.
Anote esta, sim?
Estamos lidando com algo muito além de nós, ou de qualquer coisa que conhecemos.
Como desvendar um mistério sem saber com quem se está lidando, ou ao menos, aonde se pretende chegar?
Muitos já se perguntaram isto, o que trouxe notável avanço para a filosofia, a ciência e diversas outras áreas do conhecimento, esclarecendo suposições que eram antes simplesmente pensamentos inatos.
Entretanto, algo que o homem sabe que existe porém até hoje não foi capaz de explicar é o tempo.
Alguns dizem que é invenção do próprio homem... Mas como explicar nossa capacidade então de perceber e fazer distinção do que já passou, o que está acontecendo e fazer suposições do que ainda está para acontecer, e de designar tudo isso como um 'tempo'?
Talvez em um estado mais elevado, alguns seres possam perceber tudo ao mesmo tempo, de modo a saber, também, o que para nós seria o futuro. E quem sabe no meio dessa confusão nossos sentidos possam captar alguma pulsação do pensamento destes seres, se manifestando em sonhos ou intuições sobre o que seria para nós 'o desconhecido', como já aconteceu tantas vezes e até hoje permanece sem explicação científica?
Inúmeros são os casos de pessoas que literalmente previram o futuro, ou viram fatos do passado de alguém que nunca haviam visto antes.

"O tempo é um só, porém nossa capacidade de percebê-lo é lenta, o que nos faz acreditar que exista passado, presente e um futuro."
O fato de não podermos mudar o passado confirma isto, porém existe o empecilho da possível mudança do futuro, que torna esta teoria duvidosa.
Mas a verdade é que... nunca iremos saber a verdade. (Esta é a hora que você fala para si mesmo "Bela conclusão ¬¬", mas o que posso fazer? Nossa vida é curta demais para qualquer esclarecimento de tal tamanho... E não adianta achar que vai viver para sempre a não ser que te provem o contrário, meu amigo.)
É nosso destino e fardo não desvendar os grandes mistérios do mundo, talvez se o fizéssemos, estaríamos quebrando alguma lei importante que rege o universo.
Portanto, o tempo (como milhares de outras coisas) existe, mas não sabemos o que ele é nem por que ele é por uma questão de ordem e por nossa inferioridade perante aos mistérios do universo e da vida.